Tireóide

A Tireóide é uma glândula localizada na parte anterior do pescoço e que no adulto pesa entre 15 e 25 gramas. Ela é responsável pela produção de hormônios extremamente importantes: o T4 (tiroxina) e o T3 (tri-iodotireonina), que possuem ações em diversos sistemas do nosso corpo atuando como “fontes de energia”. Cerca de 80% do T3 deriva da conversão periférica do T4 em T3, sendo o T3 cerca de 4-5 vezes mais potente do que o T4. Algumas condições como restrição de calorias, doenças graves, deficiência de selênio e alguns medicamentos podem reduzir a conversão de T4 em T3, reduzindo, portanto, a ação do hormônio em nosso corpo. A tireóide é controlada por outro hormônio (TSH), o qual é produzido pela glândula hipófise, e que estimula a produção do T4 e do T3 assim como a sua liberação da glândula.

 

Doenças tireoidianas

Alteração da função da tireóide que leva à redução de seus hormônios é chamada de Hipotireoidismo, e o aumento hormonal de Hipertireoidismo. O diagnóstico é feito basicamente através da dosagem de TSH e T4 livre no sangue. Outra alteração bastante frequente são os nódulos de tireóide, que não provocam sintomas, mas estarão presentes em cerca de 60% da população brasileira.

 

Hipotireoidismo

Síndrome clínica provocada pela deficiência dos hormônios tireoidianos tem diversas causas, sendo a mais frequente (90%) o hipotireoidismo primário decorrente principalmente da Tireoidite de Hashimoto (doença autoimune) e do hipotireoidismo provocado após uma cirurgia de tireóide ou o tratamento com iodo.

Os sintomas são decorrentes da redução dos processos metabólicos e os mais comuns são: cansaço, sonolência, pele seca, intolerância ao frio, edema na face e redução dos batimentos cardíacos, queda de cabelos, unhas enfraquecidas, mal funcionamento intestinal, alteração da memória, ganho de peso e rouquidão. É importante ressaltar que o ganho de peso em geral é pequeno, devido à retenção de líquidos, não tendo, portanto, relação com o desenvolvimento de obesidade.

Alterações metabólicas como aumento do colesterol LDL (“colesterol ruim”) e dos triglicerídeos podem ser encontradas no hipotireoidismo e são revertidas com o seu tratamento adequado. Em mulheres o hipotireoidismo acompanha-se de irregularidade menstrual, falta de ovulação e infertilidade. Nos homens pode ocorrer redução da libido, disfunção da ereção e redução de espermatozoides. Na criança se manifesta por baixa estatura, prejuízo no desempenho escolar e atraso no desenvolvimento da puberdade.

Deve-se pesquisar hipotireoidismo em pacientes com sintomas sugestivos ou naqueles com fatores de risco para a doença: maiores de 60 anos, presença de bócio, doenças autoimunes, gestantes, alterações de colesterol, síndrome de Down ou Turner. O diagnóstico é realizado através da dosagem de TSH e de T4 livre, que deve sempre ser analisado por um médico. O especialista em tireóide é o endocrinologista, que pode melhor avaliar a necessidade do tratamento com reposição do T4 com a levotiroxina sódica. Esta medicação deve ser tomada em jejum diariamente e caso seja esquecida deve ser tomada em dobro no dia seguinte. A dose pode variar de acordo com a idade e o peso do paciente. Em casos específicos pode-se adicionar o hormônio T3 ao tratamento, porém, na maioria não existe essa necessidade. Após encontrar a dose certa, o paciente deve ser avaliado a cada 6 meses para controle.

 

Hipotireoidismo na gestação

O hipotireoidismo na gestação pode ocasionar problemas tanto para a mãe como para o feto, por esse motivo a avaliação dos hormônios tireoidianos deve fazer parte do pré-natal. No primeiro trimestre da gestação o feto depende totalmente do hormônio materno, já que ainda não tem sua própria produção. No segundo trimestre ainda utiliza predominantemente o da mãe e somente no terceiro trimestre sua tireóide fornecerá a maior parte de sua necessidade hormonal. As consequências fetais possíveis incluem alteração no desenvolvimento psiconeurointelectual com déficit de QI, prematuridade, baixo peso, malformações congênitas e até morte fetal. Na mãe, a deficiência do hormônio pode levar a quadro de anemia, hemorragia pós-parto, descolamento prematuro de placenta, hipertensão, pré-eclâmpsia e aborto.

Após o diagnóstico durante a gravidez, os hormônios devem ser normalizados rapidamente com a administração de levotiroxina em doses 25-50% mais altas do que em adultas não grávidas, porque a necessidade hormonal está aumentada. As mulheres que já utilizavam a medicação, devem aumentar a dose durante a gestação de acordo com a orientação médica e exames mensais, e serem acompanhadas frequentemente até 6 meses após o parto quando provavelmente sua dose reduzirá para valores próximos aos utilizados anteriormente.

 

Hipertireoidismo

A principal causa de hipertireoidismo é a Doença de Graves, doença autoimune na qual o paciente possui anticorpos que agem no receptor de TSH da tireóide estimulando a produção hormonal. É mais comum em mulheres entre a segunda e quarta década de vida, e menos comum na população negra.

Seus sintomas mais encontrados são decorrentes do excesso de hormônios: nervosismo, aumento da sudorese, intolerância ao calor, palpitações, tremores, cansaço, perda de peso e alterações menstruais. Alterações oculares (Oftalmopatia de Graves), podem estar presentes mesmo com dosagem hormonal normal devido à presença e agressão do anticorpo dentro da órbita. O aumento do volume da tireóide está presente em 97% dos casos e é chamado de Bócio.

O diagnóstico é feito através da dosagem dos hormônios TSH, T4 livre, T3, dos anticorpos antitireoidianos: anti-tireoglobulina, anti-TPO e TRAB. Exames de imagem como Captação do iodo radioativo em 24 horas, e Ultrassonografia de tireóide auxiliam no diagnóstico diferencial.

O tratamento consiste em reduzir a resposta da tireóide ao estímulo causado pelos anticorpos com drogas chamadas antitireoidianas, não há cura da doença, pode evoluir com recidivas e remissões, a medicação apenas ajudará no controle clínico.

Alternativamente pode-se indicar em casos específicos terapia definitiva com iodo radioativo ou cirurgia para remoção da tireóide (Tireóidectomia). O acompanhamento deve ser feito de acordo com o controle clínico individual.

 

Nódulos de tireóide

Nódulos na tireóide são frequentemente encontrados durante avaliações em exames de rotina. Não devem ser motivo de preocupação, pois somente 5% dos nódulos são cancerosos, no entanto, quando identificado deve ser prontamente analisado por um especialista.

A avaliação correta do nódulo é feita através da palpação da tireóide pelo médico e confirmada pelo exame de Ultrassonografia com Doppler (medida do fluxo de sangue). De acordo com suas características ultrassonográficas este nódulo será classificado em categorias de risco baixo, intermediário ou alto, que orientam a necessidade ou não de se realizar uma punção. É importante ressaltar que nem todo nódulo precisa ser puncionado. Após o resultado da citologia (análise das células retiradas) o médico poderá indicar uma cirurgia para a sua retirada ou fará o seguimento com Ultrassonografias semestrais para acompanhar o tamanho deste nódulo. Somente se houver crescimento o procedimento de punção (PAAF) será repetido.

Dra. Fabiana Paoli

Graduada em medicina, formada em 2005, cursou o programa de Residência em Clínica Médica no Hospital do Servidor Público Municipal no período de 2008 a 2010. Fez sua especialização em Endocrinologia no Hospital Ipiranga de 2010 a 2012. No mesmo ano, obteve o Título de Especialista em Endocrinologia pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia.

Pós graduada em Nutrologia pela ABRAN - Associação Brasileira de Nutrologia em 2014.

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